terça-feira, 17 de agosto de 2010

Retrato

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Cecília Meireles
Olhos marejados e lábios colados.
Era essa a visão que prevalecia diante de teus olhos.
E todas as noites ela cantava baixinho uma canção que nunca conheceu outros timbres de voz.
“Como eu posso me lembrar de uma vida que nunca vivi?
De um amor que nunca senti?
Eu só sei que ele já esteve aqui; bem próximo de mim.
Eu me pergunto onde e quando eu pude me sentir flutuando.
Talvez em algum lugar além de meu sonho e de minha memória.
Como eu posso me lembrar de olhos que nunca olharam nos meus?
Olhos que dizem me conhecer. Olhos que eu me lembro.
Como eu posso sentir que meu coração é seu?
É assim sempre que eu consigo me lembrar de você.
Eu só consigo te querer.
Mas meu amor, como eu posso me lembrar de você, se você nunca me amou?
Não me pergunte como. Tem sido assim desde que eu consegui me lembrar de você.”